Menu
Seções
Torá ou Pentateuco: a tradição por excelência!
30 de março de 2017 Artigos

PE. JUNIOR VASCONCELOS AMARAL

Vigário Paroquial – Professor da Sa­grada Escritura na PUC Minas.

 

O Pentateuco, também conhecido como Torá judaica (“Lei”, “instrução”, “ensino de mãe”), pode ser conside­rado o coração das Escrituras Sagra­das. Toda Escritura tem como inspira­ção a “Lei de Deus” para Moisés e seu povo, juntamente a toda tradição que compõe o Pentateuco, a saber: a tra­dição da Criação (o Gênesis), seguida da tradição dos Patriarcas e Matriar­cas do Povo (Abraão e Sara, Isaac … e Jacó), em seguida a tradição do Êxodo, a ida para o Egito e a volta do Egito para Canaã, período conhecido como Exílio ou cativeiro, que perdu­rou cerca de 430 anos, seguido da busca incessante pela terra, quarenta anos peregrinando pelo deserto.

Em seguida, temos uma tradição extensa de Leis, a tradição legislativa, que compõe o Levítico e o livro dos Números e, por fim, a tradição da re­leitura das Leis dadas a Moisés e ao povo, também conhecida como Deu­teronômio, que traduzindo do gre­go pode ser chamada de “Segundas leis”, uma tradição posterior e mais recente que releu a tradição do livro do Êxodo, esta tradição do Dt está si­tuada no século VI a. C.

O Pentateuco foi atribuído, em sua autoria, a Moisés. Contudo, sabe-se hoje, depois de toda busca mais pro­funda pela história por trás do texto bíblico, que o Pentateuco ou a Torá tem como autor o próprio Deus, que inspirou muitos homens e mulheres (escribas e amanuenses, ou também hagiógrafos) para que estes narras­sem a história do povo de Deus em linguagem humana, cheia de imper­feições, contudo, de modo global está Escritura é inspirada e por isso infalí­vel, sem erros.

Originalmente, a Torá tem com lín­gua oficial o hebraico, mas no século III a. C. setenta e dois sábios a tradu­ziram para o grego, dando a este tex­to o nome de Septuaginta, ou a Bíblia LXX (70), que é composta também pela tradição dos profetas (Nebiin) e dos Escritos sapienciais (Ketubim). Estes três conjuntos formam a Bíblia hebraico a TaNaK. A versão grega LXX serviu para os judeus que viviam na Diáspora, “fora da Palestina”, so­bretudo em Alexandria no Egito, isto é, na grande dispersão a partir do século IV a. C., dispersão provocada depois do Exílio na Babilônia.

O Pentateuco ou Torá tem este nome, pois é uma composição de cin­co importantes livros, já supracitados, mas que na sequência são: Gênesis (Gn), Êxodo (Ex), Levítico (Lv), Núme­ros (Nm) e Deuteronômio (Dt). Estes mesmos livros com nomes gregos, como conhecemos, têm seus respec­tivos nomes ou títulos em hebraico e são eles: Bereshit (Gn), Shemot (Ex), Waykrá (Lv), Bamidbar (Nm), Deva­rim (Dt).

Podemos, grosso modo, perceber, segundo estudiosos renomados do Pentateuco, três formas de literatu­ra ao longo desta grande obra anti­ga. A primeira, a pré-história mítica, que compõe os primeiros onze capí­tulos do Gn, que narram a criação do mundo e do ser humano (Gn 1-2,4a e Gn 2,4b- 3), em seguida narra-se a queda, o pecado original, em seguida o pacto, ou aliança com Noé e toda história de uma nova Criação, com o dilúvio. Estas histórias consideradas míticas dizem de uma história uni­versal em sentido muito particular de um povo que vivia na Palestina e que teve contato com outras culturas que também narravam suas origens. Estes mitos arquétipos valem “para todas as pessoas e não só para uma em particular”. Deus cria o ser huma­no (Adam), que tem sua descendência incontável como as estrelas do céu e os grãos de areia do mar. A segunda literatura presente no Pentateuco é a história dos antepassados, ou dos Pa­triarcas, a partir de Gn 12 até o fim do livro de Gn com a morte de Jacó a benção a seus doze filhos. Estes capí­tulos narram a saga (história de luta e vitória, seguida de tragédias) de mui­tas pessoas, homens e mulheres, que viveram suas histórias e que experi­mentaram a ação amorosa de Deus.

A terceira tradição literária pre­sente no Pentateuco é a do Êxodo e das Leis. O Êxodo é a saída do Egito liderada por Moisés, aquele que foi retirado das águas. Moisés motiva o povo para uma libertação surpreen­dente que perdurava 430 anos mais ou menos. Deus liberta seu povo e o convoca para que depois de livre pos­sa ouvir suas leis na região do Mon­te Sinai. Lá Deus entrega a Moisés duas tábuas com 10 mandamentos, que motivam a uma relação com ele e com o semelhante, o próximo.

Do ponto de vista teológico e bí­blico, o Pentateuco é de suma impor­tância para a compreensão do sentido das Escrituras, em sua totalidade. Se no início deste texto o comparamos ao coração, significa que ele é a vál­vula pulsante da qual emana a graça de Deus que percorre todos os outros textos até chegar ao Novo Testamen­to. Esta graça anunciada no Pentateu­co, a Lei de Deus, pode ser comparada a Jesus, que, para nós cristãos, pode ser comparado ao novo Pentateuco, à nova Torá, a nova Lei que dá sentido a toda lei e a leva à perfeição.

No próximo mês (março) vamos tratar sobre o sentido dos 10 manda­mentos (o Decálogo) para o livro do Êxodo e para o Deuteronômio cap. 5 que o repete “ipsis litteri”, isto é, li­teralmente. Veremos o sentido da Lei para o povo de Deus e para nós nos dias de hoje.

Deixe um comentário
*